Aug 5, 2007

Suavidades



No silêncio que afago com as minhas mãos encolho um tímido estremecer. Parece que o quente trepidar do céu ausente me fez tecer as lágrimas que agora chovem no seu regaço e a saciam de uma sede quase asfixiante. Parece que ainda ontem segurava o futuro tangível, mas hoje a calma do equilíbrio tinge de cores frescas a indelével marca dos sorrisos que vou recolhendo, sem piedade, à medida que deslizam à frente de meus olhos os momentos em que o meu corpo se entregou aos devaneios impostos pela minha mente.
Aqueci o pudor demente e deixei que a luxúria fosse escorrendo suavemente até ao lago das minhas memórias. Ali me deixei ficar deitada, enquanto o idílico se misturava com a realidade pintada pelos meus nervos. A sua inegável ternura bombeia-me os sentimentos para o infinito do que me rodeia e simplesmente desconheço. Porém, existe sempre algo de tão familiar nos sonhos que paulatinamente planto nas águas das correntes florais, um aroma que inebria os meus sentidos e interdita qualquer negrume que queira incautamente surgir.
Ali repousam os nossos corpos, levados pela epítome das sensações reunidas ao gosto do canto dos rouxinóis, partilhando uma necessidade premente de toques gentis, incessantemente entregues à pele que se arrepia em sucessões frenéticas de espasmos. Bem perto se encontra a concretização de um dia perfeito à medida que o amarelo, o vermelho e o laranja se vão apoderando do firmamento. Bem perto sinto o cheiro pungente e extremamente intenso dos dedos a atravessar os finos e longos cabelos, devolvendo à minha carne um doce respirar, que liberta por alguns instantes o perfume da paixão. Agora podemos repousar, misteriosamente enroscados num sossego reconfortante e naturalmente enternecedor. Agora entrego-me à límpida suavidade de um acordar fechado dentro de mim, pelos meus olhos tolhidos pela abertura matinal.

3 comments:

Anonymous said...

Eu sei que já te tinha dito, mas isto tá tão lindo! Eu admiro muito o teu talento de escrita, meu anjo.
Amo-te <3

Inês said...

Estou autorizada a por este texto no meu quadro de cortiça?

Joana [ExpressingSilence] said...

Claro q podes, Ines Carolina!